Travessia Alcatrazes
O dia 1º de março de 2012 será sempre uma data especial para mim, uma lembrança de uma grande realização e também de muitos aprendizados. Esta foi a data que completei a travessia de stand up paddle saindo da ponta da praia da Barra do Sahy e chegando no arquipélago de Alcatrazes. Foram 7h08min de remada com 3 paradas de 10 min para alimentação, com um percurso toral de 38km. Mas a travessia em si, foi só uma parte de toda a trajetória de uma equipe envolvida nessa aventura, que na verdade começou em novembro de 2011. A base da equipe é a operadora Rios e Montanhas Canoas Polinésias, da dupla Betinho e Rafael. Eles foram responsáveis pela logística de água, contato com os barqueiros e tudo que diz respeito à operação de navegação. O Betinho é um grande amigo de longa data, desde o tempo dos campeonatos de rafting e foi o grande incentivador e parceiro desde a primeira travessia me acompanhando até o Montão de Trigo. O seu sócio, Rafael eu conheci ano passado, tem a academia Radical Life em Santos é preparador físico e também sempre me apoiou nesta jornada..parceirão! Deixo aqui meu agradecimento a esta dupla que organizou a logística, me orientou nas leituras de tábuas de marés, leitura dos ventos e ondulação.Valeuuu!
Então vamos partir do início. Alcatrazes é um arquipélago localizado a 45km do porto de São Sebastião, uma base militar e estação ecológica federal. Visto como um santuário ecológico e um paraíso do mergulho comparado a laje de Santos, a ilha também é conhecida por ser o maior ninhal de aves marinha do sudeste. A visitação é permitida somente para pesquisadores e este controle é feito pela Estação Ecológica Tupinambás/ICMBio. As embarcações que navegam pela região devem manter 10km de distância das ilhas e por conta dessa restrição, sua localização e outros aspectos faz com que exista um grande interesse e curiosidade em torno Alcatrazes
A primeira etapa da nossa jornada então, começou em contextualizar o ESEC Tupinambá sobre a seriedade do trabalho do projeto SUPtravessias. Para que a gente iniciasse uma parceria e pudesse receber a autorização para chegar até lá. É neste momento que entra na história o guarda parque e piloto de paramotor Leandro Saadi, que no dia 1 de março também fez a travessia, só que pelo ar, dando rasantes bem quando estávamos chegando na ilha gerando imagens incríveis.Leandro já havia iniciado um trabalho de documentação de foto e filmagem aéria sobre Alcatrazes, e fez a ponte e união entre nossos trabalhos nos colocando em contato com a diretoria da estação. Leandro depois virou nosso parceiro e atuou diretamente no planejamento da nossa atividade.
A partir daí houve um período de conciliação de agendas entre viagens e outras atividades para conversarmos e formatarmos a parceria que permitiu a realização da travessia. Sob este aspecto a experiência que tive com o Parque Nacional de Galápagos foi muito importante principalmente sobre como o projeto SUPtravessias pode ser uma ferramenta de colaboração para a preservação, educação e de discurso com a população e mídia em geral. Deixo aqui os nossos agradecimentos a Kelen Luciana Leite, chefe da ESEC Tupinambá , pela atenção e oportunidade para a realização do nosso trabalho.
Com a autorização concedida a próxima etapa seria a definição da data ideal para a realização da travessia, pois as negociações e escolhas das embarcações já haviam sido feitas e a equipe de apoio também já estava fechada.
Para o registro contei com o fotógrafo Fabio Paradise – parceiro desde a Pororoca e Galápagos – e o Marcelo Bonfim da Rota dos Tubos – já que conheço seu trabalho dos campeonatos de kayaksurf. Para pilotar as duas embarcações contamos com o experiente pescador e “homem do mar”, Urso e o chefe da nossa operação, o Betinho. Ou seja, eu sabia que estava em boas mãos! O Leandro se programou para fazer a travessia de paramotor na mesma data e ainda se prontificou a gerar as imagens aérias – show de bola, completou o time! Para localizar no tempo e espaço, neste período já estávamos no início de fevereiro, fazendo reuniões no portinho da Barra do sahy e falando ao telefone constantemente.
Bom, a partir daí começou o que eu chamo de:
UM BELO EXERCÍCIO DE HUMILDADE PERANTE A NATUREZA
Entre os fatores que deveriam convergir para a realização da travessia tínhamos: a condição climática; condição de ondulação e ventos; conciliação das agendas de toda equipe; disponibilidade dos barcos e disponibilidade de um profissional da Estação Ecológica Tupinambás
E tudo isso só foi acontecer na quinta feira, 1º de março…
O dia começou cedo naquela quinta feira, às 4:30h da manhã. A equipe havia marcado de se encontrar no portinho da Barra do Sahy às 5:00h, para que a gente partisse logo que o sol aparecesse. Tudo estava organizado: a minha alimentação e da equipe, os dois barcos de apoio, coletes salva vidas, primeiro-socorros, termos de responsabilidade para a estação assinados, gps e outros detalhes. E pouco depois das 6:00 nós saímos do riozinho localizado no canto esquerdo da praia rumo a Alcatrazes.
Nós havíamos combinado de encontrar com o Leandro, do meio para o final do trajeto, uma vez que ele faria a travessia de paramotor bem mais rápido do que o sup, com tempo estimado em 50min. No meu caso, era a primeira vez que alguém fazia este percurso de stand up e por mais que tivessemos médias de outros trechos, o trajeto em mar aberto até Alcatrazes é sempre uma surpresa, pois como dizem, quanto mais você se aproxima da ilha, mais batido e com correntes fortes o mar se apresenta ao navegante. Por isso a escolha da data e as condições de ondulação e ventos seriam determinantes para o sucesso da aventura.
Na noite anterior eu, o Betinho e o Leandro fizemos a última reunião para acertar todos os detalhes e aproveitamos também para ver um vídeo feito pelo Leandro de uma das viagens que ele fez para o arquipélago acompanhando pesquisadores da Estação Tupinambás. As condições de ondulação eram um pouco piores do que tínhamos como previsão para o dia seguinte e não foi muito animador o que vi naquela tela…água muito batida e balançando muito o barco.O que gerava expectativa é que ao que, tudo indicava a travessia seria mais difícil justamente quando eu estivesse mais cansada e desgastada.
Logo na saída após a passagem das ilhas e Couves, um trajeto mais movimentado me fez pensar que, se ali no começo já estava daquela maneira, imagina como seria mais pra frente…pensei que seria duro.. Minha estratégia foi manter um ritmo único, remada alongada e parada de até 10 min a cada duas horas para abastecer os suplementos. Depois de 4 horas eu faria paradas a cada 1 hora. Eu levava comigo um camelback com água gelada, uma garrafinha com maltodextrina (carboidrado) e alguns saches de carbo. No barco, havia açaí, banana e uma garrafa com proteína. Eu particularmente não gosto do comer muito neste tipo de atividade, mas consumo muito líquido.
Mas logo o mar alisou e eu segui em frente com um visual incrível, a luz estava linda e eu seguia deixando as ilhas e o Montão para trás. E foi deixando a parte protegida da costa e entrando em mar aberto que o cenário mudou completamente. Um vento e mar mais agitado se tornaram o cenário, eu remava e sentia a sensação que não saía do lugar. Lembrava que meu amigo Rafa tinha dito isso pra mim, que era só uma percepção distorcida, mas é incrível como a sua cabeça te comanda e até a força da remada fica diferente. Eu procurava só olhar em frente, mas depois de uns 40 min eu olhava para o lado e para trás e o Montão estava no mesmo lugar. Como a água estava remexida achava que não estava saindo do lugar…depois de mais de uma hora com esta sensação ruim eu chamei o barco e perguntei o que estava acontecendo, foi quando eles me posicionaram e me tranquilizaram e neste momento até a remada ganhou força.
As paradas aconteceram como planejei e o açaí deu ânimo e energia para seguir em frente. Já próximo da ilha, encontramos com o Leandro, passando por cima de nós e foi sensacional, mais uma injeção de ânimo para completar o trajeto. E foi isso que aconteceu depois de 7:08 da nossa saída do portinho da Barra do Sahy completando um trajeto de 38km. Uma sensação incrível de vitória, alegria e realização. Eu já havia remado todas aquela ilhas da região (Ilhas, Gatos, Couves, Montão) de caiaque e stand up e Alcatrazes era a única que faltava. Tudo aconteceu conforme o planejado pois fomos muito organizados e prudentes.
MINHA MAIOR LIÇÃO NESTA JORNADA FOI QUE A TRAVESSIA E O ESFORÇO FÍSICO EM SI, FOI APENAS UMA PARTE DO CONTEXTO DE MUITO PLANEJAMENTO, TRABALHO EM EQUIPE E RESPEITO PELA NATUREZA. OBRIGADO A TODOS QUE ESTIVERAM COMIGO NESSA AVENTURA!
Fomos recebidos pelo barco da Estação e todos fizeram muita festa, foi um astral incrível onde todos estávamos naquele lugar maravilhoso brindando a natureza. Nas horas seguintes colhemos vários depoimentos, como o da Kelen Leite, chefe da Estação Tupinambás que falou sobre o trabalho da ESESC (em breve disponibilizaremos os arquivos) e do Leandro, piloto do paramotor que contou que teve problemas com uma das hélices, mas que seguiu em frente e completou a travessia em 40min se juntando ao time! Ficamos algumas horas tirando fotos e mergulhando, apesar da visibilidade e água com uma corrente incrivelmente gelada não oferecerem as condições ideais. Durante a volta fomos presenteados com a visita de um cardume de golfinhos, que fizeram muita festa pertinho dos barcos. Fiquei feliz pois nas duas travessias que fiz eles apareceram, e isso pra mim é como uma benção da natureza para seguir em frente
DEPOIMENTOS
PROGRAMA ESPECIAL FEITO PARA O “NA COLA” DO CANAL WOOHOO
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:
Estação Ecológica Tupinambás
UOL – 10 anos de parceria
BoardHouse – suporte com os melhores equipamentos: sup Bark e remo Werner
Mormaii Saúde – proteção solar para toda equipe
Rios e Montanhas (Betinho e Rafael) – logística da operação
Fabio Paradise – fotografias
Leandro Saadi – imagens aérias
Marcelo Bonfim/Rota dos Tubos – filmagens
Roberta, PARABÉNS pela travessia!
Gostaria de que o SUP tivesse aparecido em minha vida um pouco antes para poder realizar projetos como este. Mas lamentar pra que? Se ainda posso curtir o mar remando.
Eu tenho 50 anos e não tenho condicionamento físico para realizar grandes percursos, mas se algum dia for realizar uma remada para amadores, não esqueça de me avisar.
Fiquei sua fã!
Abraços,
Clarice Fukuoka
Parabéns Rô! Sucesso. Bjo.